sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Um dia na vida do seu corpo

A cronobiologia, o ramo da ciência que estuda os ritmos biológicos do nosso organismo, revela os melhores horários para realizar uma série de atividades cotidianas da consulta ao dentista às refeições. E mais: fique por dentro de notícias surpreendentes sobre melatonina, o hormônio do sono

Cada coisa tem seu tempo. A velha frase resume com perfeição os princípios da cronobiologia, área científica que se firmou nos anos 60 do século XX. Seu foco é o estudo dos ritmos biológicos do organismo. Em outras palavras, nas últimas décadas os cientistas descobriram que nosso corpo se adaptou, como o dos demais seres vivos, à alternância entre luz e escuridão que caracteriza as 24 horas de um dia. Nesse intervalo, uma série de reações fisiológicas é deflagrada, mas cada uma delas tem hora marcada para acontecer. O hormônio do crescimento é secretado especialmente à noite, exemplifica o neurocientista John Fontenele Araújo, coordenador do Laboratório de Cronobiologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.Esse sobe-e-desce de substâncias se reflete na nossa disposição para desempenhar as tarefas cotidianas nesse ou naquele horário. Da mesma forma que a idéia de sermos acordados às 5 da manhã para comer uma feijoada nos parece indigesta, esforços físicos e intelectuais têm seus altos e baixos que devem ser levados em conta ao planejarmos nossas atividades, opina Luiz Menna-Barreto, professor da Universidade de São Paulo e um dos pioneiros no estudo da cronobiologia no Brasil. Baseada nas recentes descobertas sobre o assunto, a escritora americana Jennifer Ackerman, especializada em divulgação científica, revela ao longo das páginas do livro Sex Sleep Eat Drink Dream, recém-lançado nos Estados Unidos, a hora certa para a prática de esportes ou para agendar uma visita ao dentista, entre outros compromissos(veja cronologia ao longo da reportagem).

Além de afiar a performance nas mais variadas atividades do dia-adia, as recentes descobertas sobre os ciclos que comandam o organismo vêm contribuindo para o desenvolvimento de novos remédios e melhoras no tratamento de algumas doenças.A cronobiologia tem demonstrado que alguns sintomas ocorrem com maior intensidade em determinadas horas do dia, explica o neurocientista John Fontenele Araújo. Dessa forma, pode-se ajustar as doses de um medicamento de acordo com os picos de incidência de um mal ou sintoma ao longo das 24 horas. É o caso da pressão alta.

A pressão geralmente dispara nas primeiras horas da manhã, o que explica uma maior ocorrência de infartos e derrames nesse período. Assim, algumas drogas para controlar o problema devem ser engolidas logo depois de o sol nascer. Os ataques de asma são outro exemplo f lagrante. Eles costumam vir à tona durante a madrugada. Daí, não é de estranhar a recomendação para os asmáticos se valerem da medicação específica para combatê-los à noite.

O tratamento de tumores é outro foco das pesquisas da cronobiologia, mais especificamente da cronofarmacologia, que estuda a ação de remédios de acordo com os ponteiros fisiológicos do corpo. Os pesquisadores procuram descobrir um horário em que somente as células cancerosas sejam sensíveis às drogas, explica o neurofisiologisa José Cipolla- Neto, da Universidade de São Paulo. Dessa forma, as células sadias seriam poupadas dos efeitos tóxicos da medicação.

Os hospitais mais modernos já se renderam aos ensinamentos dessa área científica. Em alguns deles, até os prédios foram projetados seguindo seus critérios. Antes pensava-se que as UTIs, por exemplo, tivessem de ser totalmente isoladas. Não era importante para o paciente saber se era dia ou noite, conta Fontenele. Hoje muitas dessas unidades já apresentam janelas e, como dá para perceber o ciclo dia-e-noite, os doentes melhoram mais rápido. Não à toa. Em contato com a luminosidade natural, quem está hospitalizado fica, assim, sincronizado com a luz solar. No final das contas, isso provoca um ajuste dos ponteiros do relógio biológico, porque o indivíduo permanece desperto de manhã e à tarde e, depois que a noite cai, adormece. E manter o nosso tiquetaque natural regulado é fundamental para conservar ou recuperar a saúde.

Nosso relógio biológico atende pelo estranho nome de núcleo supraquiasmático e está localizado no hipotálamo, lá no meio do cérebro. A claridade do dia impede que ele acione a glândula pineal, também situada naquela região. Já ao anoitecer, essa estrutura começa a liberar a melatonina, que é mais conhecida como o hormônio do sono. Além dessa nobre função, a substância desempenha outros papéis de destaque no organismo. Em suma, agiria como um regente dos ritmos internos do corpo.

Quando está sendo produzida, a melatonina sinaliza para o ser humano que anoiteceu. Sua liberação varia de acordo com a duração da noite, algo estritamente relacionado às estações do ano no inverno, os períodos de escuridão são maiores; no verão, mais curtos, e por aí vai. Na calada da madrugada, ao atingir seu pico na circulação, a melatonina prepara as células para receber, horas depois, boas doses de insulina, a encarregada de abastecê-las de açúcar. Ela também programa os turnos de trabalho do pâncreas, a glândula que fabrica esse hormônio, para coincidir com o período de vigília, momento em que estamos mais ativos e necessitamos de energia para manter o pique.

Sua ação contra os radicais livres, moléculas que danificam o DNA, impressiona os especialistas. A melatonina tem poder antioxidante maior do que as vitaminas C e E, diz José Cipolla- Neto. Nos bastidores, recruta enzimas capazes de reparar os estragos infligidos ao material genético. Assim, não é de estranhar o fato de muitos cientistas a considerarem uma aliada e tanto na luta contra tumores, especialmente aqueles que se alimentam de estrógeno, caso de alguns cânceres de mama seu efeito benéfico se dá pelo bloqueio dos receptores desse hormônio feminino. Já que o assunto é proteção, também é preciso dizer que a melatonina facilita a divisão de células de defesa, como os linfócitos. Por fim, funciona como um antihipertensivo. A questão é: com o avanço da idade, seus níveis despencam. Por isso, não é mera coincidência certos males, como a pressão alta, acometerem com maior freqüência pessoas idosas. Mas sua versão sintética é proibida no Brasil. Talvez seja hora de rever isso, opina Cipolla-Neto. De qualquer forma, respeitar os ritmos do organismo inclusive dormindo bem para assegurar o aporte de melatonina ainda é a melhor maneira de garantir muita disposição. Em todas as horas. E por toda a vida.

8h

O amor está no ar. A testosterona, hormônio masculino por natureza e responsável por despertar o desejo sexual, está nas alturas. Por outro lado, o sêmen de melhor qualidade é produzido em maior volume à tarde. Assim, quem quer gerar fi lhos poderá ter mais chances de ser bemsucedido se centralizar seus esforços no fi nal do dia.

10h

A dica é especial para as mulheres, que fi cam angustiadas diante da idéia de exibir unhas mal cuidadas por aí: procure fazer a mão de manhã. Qualquer sangramento inesperado, fruto de alguma manobra desastrada da manicure, será estancado mais rapidamente. Explica-se: as plaquetas, os elementos por trás da coagulação sangüínea, encontram-se em níveis mais elevados nesse período. O conselho vale também para os barbudos que querem se livrar dos pêlos no rosto.

11h

As manhãs são ideais para devorar pães, massas, doces e afi ns. Acredita-se que o organismo processe carboidratos com maior velocidade nas primeiras horas do dia do que durante a noite. Um estudo da Universidade de Minnesota, nos Estados Unidos, mostra que a ingestão diária de uma única refeição de 2 mil calorias no café-da-manhã todo dia ajudaria a perder peso.

14h

Viva a sesta! A pausa após o almoço atende à necessidade biológica de repouso nesse horário. Em outras palavras, o corpo humano é programado para uma soneca depois da refeição. Os últimos estudos sobre o tema indicam que o recomendado seria cochilar de 15 a 20 minutos entre as 13 e as 14h30 para aliviar o cansaço, recarregar as baterias mentais e melhorar a performance cognitiva.

15h

Ninguém é muito fã, mas não há escapatória: um dia ou outro a gente tem de se sentar na cadeira do dentista. A escritora Jennifer Ackerman recomenda que as consultas com esse profi ssional sejam marcadas para depois do almoço. Isso porque à tarde conseguimos suportar com menos estremecimentos eventuais dores nos dentes. E, se houver necessidade de anestesia, as doses serão menores.

17h

Adultos jovens tendem a se distrair menos no fi nalzinho da tarde. Assim, quem está prestando um vestibular ou qualquer outro concurso deve focar os estudos perto da hora em que o sol se põe. Pessoas com idade mais avançada, no entanto, vivenciam a situação inversa.

18h

Que hora mais feliz para uma happy hour. A brincadeira não tem nada de infame. Entre as 17 e as 18h, nosso fígado processa de maneira muito mais efi ciente o álcool, o que facilita a desintoxicação do organismo. Dessa forma, minimiza-se o estrago que uns goles a mais na companhia dos amigos poderiam provocar.

19h

Final da tarde, início da noite: a temperatura corporal atinge seu pico. Como conseqüência dessa subida, a tolerância à dor, a fl exibilidade dos músculos e a velocidade dos refl exos se elevam. Eis uma boa hora para ir à academia ou dar aquela corrida no parque. Quer melhor incentivo para quebrar seus recordes, leitor?

Das 21 à 0h

Você pode até tentar adormecer entre as 18 e as 21h, mas vai ser difícil pregar os olhos. A gente tende a dormir melhor de duas a três horas depois desse intervalo. É quando o relógio biológico envia sinais para a glândula pineal aumentar sua produção de melatonina, avisando que está escuro, ambiente ideal para se jogar debaixo dos lençóis.



Fonte: estou pesquisando a fonte e colocarei em breve


"Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser. Que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver”


Por: AMIR KLINK em Mar sem Fim