A suposta capacidade afrodisíaca de alguns alimentos gera controvérsias.
A chilena Isabel Allende, autora do livro Afrodite – Contos, receitas e outros afrodisíacos, define o termo afrodisíaco como qualquer substância ou atividade que desperta o desejo amoroso. Segundo ela, a maioria dos elementos atua por impulso da imaginação, opinião compartilhada pela terapeuta e sexóloga Jerusa Figueirêdo: “É evidente que os cheiros, os sabores e os aspectos visuais que despertam e aguçam o paladar geram uma excitação, e o desejo é muito favorecido quando existe essa sensação de bem-estar. O ritual de preparação para o momento do amor, como o ato de montar uma bela mesa acompanhada de um espumante, um lençol especial colocado na cama ou velas iluminando o ambiente, tem um efeito que pode ser chamado afrodisíaco, porque mexe diretamente com os prazeres”, exemplifica.
Ingredientes sugestivos
A nutricionista Odeth Oliveira diz que um alimento pode ser considerado afrodisíaco quando possui nutrientes que auxiliam a performance, o aumento do desejo ou mesmo no tratamento de disfunções sexuais. “Normalmente, o efeito não é imediato. Os produtos com estas funções devem ser usados habitualmente na alimentação. Há outros considerados afrodisíacos devido à semelhança no formato com o de órgãos sexuais femininos ou masculinos (os ditos fálicos), muitos embasados na crença popular, porém, sem comprovação científica”.
A cereja, por exemplo, tem conotação erótica, ao lembrar uma boca ou um coração, e também por ser encontrada aos pares. A maçã, por sua vez, já é conhecida por evocar características, como tentação e sedução. Já a pimenta traz como elementos sugestivos o ardor e a cor, além de ajudar a liberar endorfinas, que são enzimas responsáveis pela sensação de prazer.
Algumas vitaminas e minerais são indispensáveis para definir um elemento como afrodisíaco, de acordo com a nutricionista. “O zinco é um mineral essencial para a produção da testosterona e do esperma e está presente em frutos do mar e nas oleaginosas, como as amêndoas. Já o ácido fólico é uma vitamina importante para a produção do esperma e, nas mulheres, atua na maturação do óvulo, implantação do embrião e crescimento fetal; pode ser encontrado nos vegetais verde-escuros, como aspargos, feijões e vitaminas B6 e B5, que atuam na produção de hormônios sexuais”, detalha.
Alguns ingredientes também possuem capacidade afrodisíaca, segundo Odeth. “Os ovos estão em estudo, devido a um possível auxílio no aumento da libido. O licopeno, por exemplo, melhora a fertilidade em homens, e uma boa fonte é o tomate. O chocolate também entra na lista, porque contém magnésio, tiramina e feniletilamina, que são consideradas as ‘drogas do amor’ e aumentam o desejo sexual e o prazer nas mulheres. Esses têm também a capacidade de aumentar a produção dos neurotransmissores do prazer: dopamina, serotonina e endorfina. O ideal, para a finalidade afrodisíaca, é o uso do chocolate amargo, que tem maior concentração desses nutrientes”.
Especialistas mostram opiniões divergentes
Para o professor do curso de farmácia da Universidade de Brasília (UnB), Vitor Motta Moreira, não existe, sob o ponto de vista farmacológico, nenhum tipo de substância considerada afrodisíaca. “Muitas podem ajudar no comportamento sexual de forma mais direta, como o Viagra – medicamento usado para este fim – e de forma indireta, como comidas gordurosas, que são a base para a síntese de vários hormônios sexuais, a exemplo da testosterona e da progesterona”, observa.
Segundo o botânico Gil Felippe, autor do livro No rastro de Afrodite – Plantas afrodisíacas e culinária, existem, na natureza, apenas dois elementos que, de fato, ajudam a ativar a sexualidade: a ioimbina, um fármaco anti-impotência sexual que tem como efeito a estimulação erétil, e a papaverina, substância encontrada na papoula.
Rogério Muniz Netto, proprietário do mercadinho gourmet La Palma, conta que é grande a procura por produtos afrodisíacos, mesmo que nada disso seja comprovado cientificamente. “Hoje, as pessoas não ficam com vergonha de dizer que estão buscando alimentos com essa finalidade. Acredita-se que elementos como o gengibre, canela e mel ativam a libido. Eu indico muitos ingredientes e os clientes procuram itens para fazer as receitas afrodisíacas”, relata.
A sexóloga Jerusa Figueirêdo, por sua vez, comenta: “A pessoa não deve fazer isso meramente por receita, mas que represente uma festa e ela saiba que sua iniciativa será capaz de agradar aos dois”, conclui.
Fonte: Viva Melhor / Danielle Ramos