sexta-feira, 18 de junho de 2010

No mundo, existem cerca de 7 bilhões de pessoas...


 Por Rosana Caiado
 

Um ano tem 12 meses ou 365 dias que contém 8.760 horas ou 525.600 minutos. Um ano tem dois semestres, um natal, três dias de carnaval e quatro estações. No Brasil, o inverno começa no dia 21 de junho. Ou seja, apesar das evidências, ainda não começou. Está frio e os meus lábios estão pálidos. Quando você não está, tenho que pegar mais um cobertor. No armário, tem três cobertores de casal e dois de solteiro – um rosa e um verde. Entre os de casal, dois são brancos e um é azul. Dou preferência aos brancos.

Dos 365 dias do ano, há um para as mães, um para os pais, um para as crianças e um para os namorados. Ouvi dizer que o dia em que os motéis ficam mais cheios não é o dos namorados mas o da secretária. Só percebi que era piada quando me contaram a mesma coisa, só que, em vez de secretária, era amante. Dia do amante. O dia do amante é 22 de setembro e cai todo ano na terça-feira. À tarde. O dia da secretária é 30 de setembro.

No planeta Terra existem 6 continentes e 192 países, entre eles o Brasil, que tem 26 estados, entre eles, o Rio de Janeiro, que tem 92 municípios. A cidade do Rio de Janeiro tem, pelo que contei,163 bairros, como Tijuca, Lagoa e Botafogo, que foram bairros onde morei. As pessoas que não são cariocas têm dificuldade em colocar a preposição antes do bairro, ou seja, não sabem se o certo é usar em ou na, de modo que é comum falarem na Copacabana e em Barra. Eu corrijo.

Cada bairro tem uma rua principal, como Copacabana tem a Nossa Senhora e o Centro tem a Presidente Vargas, Botafogo tem a Voluntários. A Voluntários tem 19 transversais e eu moro em uma delas. Em Botafogo, existem 30 igrejas católicas, sendo que uma fica perto de casa, de modo que ouço o sino tocar de hora em hora. Quando estou sem relógio, conto as badaladas para saber que horas são e me lembro da minha infância, do relógio preto da sala que era de corda e tocava de quinze em quinze minutos. Quando eu ficava sozinha em casa, à noite, morria de medo do relógio como se as badaladas fossem um prenúncio.

No mundo, existem cerca de 7 bilhões de pessoas contando comigo e com você. Em vários lugares do mundo, há mais mulheres do que homens, inclusive, como se pode notar, no Brasil, onde há cerca de 184 milhões de habitantes. Para cada 100 meninas, nascem apenas 94,5 meninos, embora eu não saiba ao certo o que é “0,5” menino. São 6 milhões de mulheres a mais – daí tanto chororô.

Dos 184 milhões de brasileiros, cerca de 15 milhões moram no estado do Rio de Janeiro e 6, na cidade, onde há mais de 300 pessoas com mais de 100 anos. A minha avó paterna morreu aos 104, dormindo, na Tijuca. Ao longo da vida, uma pessoa toma cerca de 7 mil banhos, usa 656 sabonetes e 198 frascos de xampu, além de 276 tubos de pasta de dente e 78 escovas. É triste pensar que me faltam tão poucas escovas. De hoje em diante, só comprarei vermelhas.

Se uma pessoa costuma pronunciar, em média, 4.300 palavras por dia, eu devo falar no máximo 500. Talvez 250. Em compensação, escrevo muitas palavras. Nessa página, há 831 palavras e 4488 caracteres, contando os espaços. De tanto digitar sentada no sofá que tem 5 almofadas e 3 lugares, estou com uma protuberância no pulso esquerdo que devo mostrar ao ortopedista. Botafogo tem 19 ortopedistas conveniados ao meu plano de saúde, sendo que dois atendem na minha rua, que é uma das 19 transversais da Voluntários. Os nomes dos ortopedistas são Moacyr e Stelio. Entre os 17 restantes, 3 se chamam Rodrigo.

Das minhas 250 palavras, me considero feliz se três ou quatro são de amor - quando são retribuídas.Uma pessoa tem em media 300 pessoas no seu círculo social. Dependendo da profissão, calcula-se que mais de metade seja de pessoas do mesmo sexo. Significa que, depois da peneira social que é o meu círculo, restam cerca de 100 homens por quem poderia me apaixonar. As chances de uma pessoa se apaixonar por outra e essa outra se apaixonar de volta ao mesmo tempo e no mesmo espaço são de aproximadamente 3,14%. Se essa pessoa for cheirosa, souber fazer cafuné e estiver a 12 reais de distância da sua casa, é o que eu chamo de sorte.

Segundos, minutos, horas, dias, ruas, bairros, cidades, estados, países, pessoas, banhos, palavras e escovas passam. Como sempre faz, o tempo passa. A prova disso é o sino que, na esquina, não deixa de tocar. De hora em hora. Ou de quinze em quinze minutos na minha infância, quando o tempo passava mais devagar. A cada hora, ou 60 minutos, ou 3.600 segundos, uma badalada. O tempo passa e ninguém vê. Só eu e você.
 

"Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser. Que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver”


Por: AMIR KLINK em Mar sem Fim